Somente em janeiro deste ano, 22 pessoas procuraram a emergência da Fundação Altino Ventura (FAV) para tratar lesões nos olhos provocadas por pomadas para cabelos, segundo a instituição. A unidade de saúde, localizada no bairro da Boa Vista, no Centro do Recife, é referência em atendimento oftalmológico no estado.
Bastante usado durante o período de carnaval, o produto, que serve para modelar tranças e penteados, prejudica a visão quando escorre para os olhos, seja com o suor ou quando se lava o cabelo. Entre os problemas que podem ser causados pela pomada, estão queimaduras, úlcera, conjuntivite química, cegueira temporária e até danos irreversíveis à córnea.
Em 2023, mais de 250 pessoas em Pernambuco procuraram atendimento por causa de lesões provocadas pelos produtos modeladores. Na época, foi proibida, no Brasil, a venda de todas as pomadas disponíveis no mercado. No entanto, algumas delas foram autorizadas posteriormente. A lista, com os nomes de 490 produtos permitidos, está disponível na internet.
Segundo especialistas, os danos à saúde acontecem porque essas pomadas, principalmente aquelas que não são autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), contêm produtos químicos que causam dor, coceira, irritação e inchaço.
"Quando um produto químico cai aos olhos, a primeira atitude que o paciente deve tomar é, imediatamente, lavar abundantemente os olhos por cerca de 10 a 20 minutos com água mineral limpa ou soro fisiológico. Essa é a primeira atitude para que aquele produto, realmente, saia dos olhos e pare de incomodar", explicou a oftalmologista Camila Moraes em entrevista.
Após a lavagem, ainda de acordo com a médica, é preciso verificar se há baixa de visão ou se os olhos estão vermelhos ou com dor. Nesses casos, o paciente deve procurar uma emergência oftalmológica. "As principais [lesões] são as ceratites na córnea, os arranhões na córnea, pelo trauma químico", disse a especialista.
Outro cuidado que as pessoas devem tomar após passar uma pomada é lavar o cabelo com a cabeça inclinada para trás, para evitar que o produto escorra pelo rosto e atinja os olhos.
'Não conseguia enxergar nada'
A técnica de enfermagem Kássia Silva teve sérios transtornos depois que passou uma pomada para trançar os cabelos antes de ir a uma festa no domingo (26).
"Já no finalzinho da tarde, o olho ardendo muito, bem irritado, e tive uma baixa visualização. Fiquei com a visualização um pouco opaca. [...] À noite, umas 20h, 21h, não estava conseguindo ver quase ninguém. E o olho muito, muito inchado", contou Kássia.
Ela disse, ainda, que teve a sensação de que tinha entrado areia ou caco de vidro nos olhos. Kássia, então, fez uma lavagem, pingou um colírio e foi dormir. No dia seguinte, ao acordar, percebeu que não conseguia mais enxergar.
"Quando acordei, não estava mais conseguindo enxergar nada. Nada. E o olho doía bastante. [...] Quando cheguei no Altino Ventura, eles informaram que minha córnea estava queimada, então tive que fazer o tratamento lá mesmo. Lavar umas três vezes, colocar colírio... Depois, fui para a médica e ela receitou os colírios que estou usando em casa", afirmou Kássia.
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