Após 3 meses da nova gestão do IJF, pacientes e profissionais relatam que ainda faltam medicamentos e insumos

A direção do hospital negou a falta de medicamentos e insumos, mas que “itens pontuais” estão nos prazos de análise e logística de entrega.

04/04/2025 às 17h31
Por: Mário Almeida Fonte: Diário do Nordeste
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Após 3 meses da nova gestão do IJF, pacientes e profissionais relatam que ainda faltam medicamentos e insumos

A situação que, no final de 2024 e início de 2025, era de crise aguda no maior hospital da rede municipal de Fortaleza, o Instituto Dr. José Frota (IJF), no Centro, hoje não tem a mesma intensidade, mas ainda é alarmante e tem gerado impactos para quem é atendido no local. A avaliação é de famílias com pacientes internados e de profissionais da saúde que atuam na unidade.

A situação no maior hospital de traumatologia do Ceará, que é constantemente complicada, foi agravada no fim de 2024, durante a gestão do ex-prefeito José Sarto, como denunciou o Diário do Nordeste, com falta de comida, remédios, insumos, lençóis, inclusive, assim como estrutura precária para pacientes e acompanhantes.

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Depois disso, várias medidas foram tomadas, com aporte de recursos estaduais e federais. No entanto, a reportagem recebeu agora novas informações sobre falta de medicação e outros itens.

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A direção do IJF nega a falta de remédios e insumos, porém, tanto usuários da unidade quanto profissionais relataram ao Diário do Nordeste, nesta quinta-feira (3), a falta de medicação, como anestésicos opioides (usados para a dor, por exemplo) e antibióticos, além de insumos como materiais para curativos.

Outro ponto, queixam-se os acompanhantes, é o fato de a troca de lençóis não estar regular na unidade, e pacientes chegarem a passar mais de 24 horas com o mesmo material, afetando as condições de higiene.

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“(...) Já foi possível reorganizar o fornecimento dos itens que estavam em falta nos estoques do hospital e que, atualmente, não há registro de falta de lençóis, gazes, antibióticos, analgésicos ou mesmo refeições para o devido atendimento aos pacientes. (...) Alguns itens pontuais estão dentro dos prazos administrativos de análise e logística de entrega para os próximos dias”, conforme nota da direção do IJF.

Entretanto, um levantamento realizado pelo Sindicato dos Trabalhadores no Serviço de Saúde de Fortaleza (Sintsaf) com informações apresentadas por profissionais da área atuantes no Município também aponta falta de diferentes itens, como óleo, álcool 70%, gaze e máscara. Também foi indicada a quantidade insuficiente de toalhas, tanto para paciente quanto para funcionários, e de lençol.

 

Entre os remédios faltantes, foram citados pelos profissionais de saúde:

tramal e pregabalina (analgésicos);

gabapentina (anticonvulsivante);

quetiapina (antipsicótico atípico);

alprazolam comprimido (benzodiazepínico); 

fenobarbital comprimido (barbitúricos);

meropenem e vancomicina (antibióticos);

lactulona (tratamento da constipação intestinal), entre outros.

O Diário do Nordeste questionou o IJF por meio da assessoria de imprensa sobre possíveis dificuldades em termos de recursos financeiros ou logísticos para compra de insumos e medicamentos que estejam levando aos problemas relatados à reportagem, além do prazo para regularização dos estoques.

Também foi questionado se os recursos anunciados pelos governos Federal e Estadual para a unidade já estão disponíveis e como está o planejamento para a aplicação desses valores. Também foi perguntado se eles já estão sendo utilizados e, se sim, o que está sendo priorizado pela gestão. Essas indagações não foram respondidas até a publicação desta reportagem.

Em nota, a direção do hospital negou a existência de falta de lençóis, gazes, antibióticos, analgésicos ou de refeições para atendimento aos pacientes e afirma que todos os contratos foram negociados e estão sendo normalizados. “Alguns itens pontuais estão dentro dos prazos administrativos de análise e logística de entrega para os próximos dias”, complementa.

O comunicado também afirma que “situações excepcionais, que refletem o perfil específico de cada paciente, são devidamente acompanhadas pelas equipes multiprofissionais do IJF, que reafirma seu compromisso com a melhoria da qualidade do atendimento à população”.

 

Relatos de profissionais e acompanhantes no IJF

Uma acompanhante (que preferiu não ser identificada) que está com o filho de 27 anos internado há 35 dias devido a um acidente de moto.

Ela relata que, por conta da ocorrência, o filho precisou amputar a perna direita. Segundo a mulher, o filho fez uma primeira cirurgia para tentar “salvar a perna” assim que deu entrada no hospital há pouco mais de um mês, mas o membro necrosou e foi preciso, dias depois, fazer a retirada completa. Nesse processo, faltou remédio para tentar aliviar a dor, conta.

“De atendimento eu não tenho do que reclamar (no IJF), assim que ele chegou, ele já foi para a cirurgia. Agora, medicação falta muito”, diz. A mulher conta que, após a cirurgia de amputação, não tinha o analgésico necessário e ela precisou comprar. “Mas não pode levar lá pra cima. O paciente tem que ficar com dor”, afirma.

“No caso do meu filho, um médico que conhecemos e trabalha no hospital em outro setor levou remédio e, na condição de médico, disse que ele não podia ficar com dor e conseguimos que ele tomasse. Mas já vi outras pessoas sofrendo”, complementa a mãe.

Além disso, ela diz também que falta lençol para a troca adequada. “Eu tive que trazer de casa, mas, além de não ter, não deixam subir. Passa o dia todo com o lençol sujo.” De acordo com ela, o filho está em uma enfermaria no IJF 1, junto com outros seis pacientes.

O motoboy Luís Cláudio Nunes contou ao Diário do Nordeste que a mãe, aposentada de 67 anos, está internada no IJF há 17 dias. A idosa, de acordo com ele, sofreu uma queda e tem um tumor na cabeça. Nos últimos 10 dias, ela precisou de uma medicação para melhorar o aparelho digestivo, mas, embora o médico que a acompanha tenha receitado, logo o acompanhante foi informado de que o hospital não tinha a medicação.

“Ela estava há 10 dias com dificuldades e o médico disse: ‘Precisa tomar o medicamento, mas está em falta’. Deram a receita e a gente comprou aqui fora. Na minha visão, é um medicamento simples, mas não tem no hospital”, afirmou Luís, cuja mãe, de acordo com ele, está internada no prédio do IJF 2.

A situação de falta de medicamentos é reiterada pela doméstica Cláudia Lúcia Evangelista, que acompanha o marido, de 63 anos, no hospital. Ele foi diagnosticado com câncer há alguns meses e estava debilitado. Há dois dias, caiu em casa e quebrou o fêmur.

“Desde o dia que entrou não tinha medicação para tomar. A gente tava até sem dinheiro e eu tive que pedir uma ajuda para comprar. Não tinha profenid (anti-inflamatório), nem tramal (analgésico)”, explica. Ela acrescenta que o marido estava na emergência, depois seguiu para o setor de traumatologia e agora aguarda no corredor da ala cirúrgica, onde, estima ela, estão cerca de 20 pessoas.

Ela também indica que a situação está melhor do que a vivenciada nos últimos meses de 2024, mas aponta que “está longe de ser restabelecida a normalidade”. De acordo com a enfermeira, um dos fatores que comprometem o funcionamento regular do hospital é o fato de não ter material suficiente e a incerteza de quando e se haverá reposição.

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